A participação das famílias na educação da Zona Sul de São Paulo

 

A participação popular na educação é a forma de as famílias e sociedade civil auxiliarem o Governo e entidades de ensino no processo educativo das crianças e adolescentes do País. Isso pode ser feito por meio de atitudes cotidianas, por exemplo, ao cultivar o hábito da leitura e ajudar os filhos a conservar o material escolar. O papel dos pais é acompanhar a trajetória de aprendizado das crianças, valorizar o esforço delas e respeitar suas limitações, pois cada indivíduo tem seu tempo de aprendizado.

   Quando há à participação dos pais as chances de as crianças abandonarem os estudos reduzem e os responsáveis conseguem entender as limitações do filhos, percebendo, se ele tem alguma dificuldade de aprendizagem. Entretanto, nas zonas mais pobres da cidade de São Paulo, poucas famílias sabem a forma correta de participar da vida letiva de seus filhos e tão pouco têm tempo, pois muitas vezes trabalham o dia inteiro e não conseguem acompanhar o desenvolvimento escolar dos alunos.


Um exemplo é de Luanna Alves Dos Santos, moradora do Jardim Jacira, mãe de Cristian e Carol que estão no Sétimo e Oitavo ano do Ensino Fundamental Dois, consecutivamente. “Eu moro sozinha, pago aluguel, infelizmente eu não tenho tempo de estar participando melhor. O tempinho que eu tinha, participava, mas não é tanto, tinha dois empregos, trabalhava de dia e de noite porque eu precisava de uma moradia, eu também precisava de dar algo melhor para eles”.

O descaso do ensino básico e fundamental na periferia vem de gerações e se reflete nas casas, no momento em que os pais têm tempo e mesmo assim não conseguem ajudar os filhos nas atividades escolares. Isso ocorre por não terem o conhecimento necessário, pois muitas vezes não completaram o ensino, dessa forma se tornam incapazes de ajudar nas lições e acabam recorrendo a ajuda de outros parentes ou até vizinhos que tem mais conhecimento para que possam ajudar seus filhos com as tarefas.

Por exemplo o caso de Shirley Santana, que é mãe de três filhos e dona de casa. A moradora do Capão Redondo relata que “já enfrentei várias dificuldades em ajudar, porque eu não terminei meus estudos, então, às vezes, algumas questões que eles me perguntavam, eu não sabia responder e respondo como posso, né? Peço para perguntar aos meus irmãos mais velhos que já são adultos para ver se eles podem ajudar de alguma forma”.

Por conta da ausência ou da dificuldade dos pais, muitos alunos desenvolveram a capacidade de aprenderem sozinhos, como Ryan Luiz, de 17 anos, estudante do Terceiro Ano do Ensino Médio. “Para ser bem sincero, eu sempre estudei sozinho. Mas estudar sozinho não é uma coisa que você nasce com, ou seja, a minha família me ajudou no estudo de um jeito que ela me incentivou a buscar o conhecimento por mim mesmo e não ficar sempre dependendo deles”, afirma.

Corona vírus

 Se a situação já não era boa, por conta da pandemia da COVID-19, se torna mais difícil a relação de pais e escola, como conta Luana Alves Dos Santos sobre a falta de auxílio da escola com seu filho que tem atraso no desenvolvimento escolar. “A escola não se posiciona em algo para eu fazer por ele. E tanto que nessa pandemia o meu filho além de ter dificuldade, porque ele não sabe ler, a escola também não se posiciona, nem para ajudar ele, nem para me ajudar”, conta a mãe de Cristian.

Já para o estudante Ryan, que se sente desmotivado a estudar nesse período, conta que as dificuldades encontradas nesse período é “a falta de apoio dos professores. Isso, de verdade, quebra as pernas. Porque às vezes você está tentando entender a matéria, está com dificuldade, aí você manda mensagem para o professor e ele te responde daqui a dois dias só. Isso se ele responder”.

A pedagoga Edina Pires reconhece que “muitos professores não têm domínio sobre as ferramentas de comunicação virtual o que acaba sendo um fator que dificulta a realização de suas aulas”. A professora também conta que além da falta desse domínio com a tecnologia por parte dos mestres, muitas famílias não têm acesso a um bom computador, celular e nem internet de qualidade.

Isso dificulta muito e causa mais desigualdade entre as classes sociais para o uso da ferramenta escola nesse momento de pandemia. A classe social mais desprovida de recursos, por não ter esse acesso de qualidade, acaba ficando defasada no ensino e os pais muitas vezes não estão em casa para ajudar os filhos”. Edina também afirma que alguns pais com quem teve contato desistiram de retornar os filhos à escola neste ano por conta do surto epidemiológico.

Incentivo à leitura

No Brasil, 44% das pessoas não cultivam o hábito de ler, segundo constatou a quarta edição da pesquisa Retratos da Leitura — realizada pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope), a pedido do Instituto Pró-Livro. Os resultados mostram que 28% das pessoas não lêem simplesmente pela falta de prazer nessa atividade e que outros 20% não aprenderam a fazer isso.

Além da escola, reverter este cenário também é uma responsabilidade dos pais, que devem oferecer incentivo à leitura desde a infância, já que essa é uma prática que estimula a imaginação e a criatividade, além de enriquecer o vocabulário. A leitura infantil é forma mais simples de fomentar a alfabetização no País e de ajudar os alunos a serem mais autodidatas quanto a escola.

Kenna Ramos de Carvalho,16 anos, atualmente estuda na Escola Estadual Luís Magalhães de Araújo, está no Segundo ano do Ensino médio e relata que “o amor que eu desenvolvi pela leitura, foi por conta do incentivo do meu pai, porque ele colocava eu e meu irmão para para ler, sabe. Liamos bastante, no começo eu não gostava muito, mas hoje eu sou apaixonada por leitura, eu acredito que por conta do meu pai, porque ele incentivava muito e incentiva a gente até hoje”, conta a estudante.

Existem diversas formas de estimular à leitura que os pais podem colocar em prática, Luana Santana encontrou na Bíblia a forma de desenvolver o hábito de leitura de suas crianças. Já Lourdes Jesus Ferreira diz dar cortes de jornais e revistas para seus filhos lerem. Essas e outras, são as formas em que as famílias encontram para proporcionarem um ambiente menos desigual para que os jovens e crianças da Periferia as da zona sul de São Paulo desenvolvam o habito da leitura.

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